Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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12 de abril de 2012

Dr.João Maria de Sousa - Natural de Porto da Lage

Em 13 de Novembro de 1836 nascia em Porto da Lage João Maria de Sousa, filho de João Manuel de Sousa e de Maria José da Piedade de Sousa, numa casa cujas ruínas ainda se mantinham de pé há perto de quarenta anos. Era "bacharel formado em Medicina", como se dizia então, na Universidade de Coimbra sendo depois médico em Tomar por mais de quarenta anos. Para além da sua actividade profissional foi um grande interveniente na vida cívica e política do seu tempo sendo considerado um grande republicano e democrata. O seu nome chegou aos nossos dias sobretudo devido à sua obra literária de cariz histórico Notícia Descriptiva e Histórica da cidade de Thomar, a qual foi editada pela primeira vez em 1903, e mais tarde reeditada em edição fac similada em 1991. Ainda hoje esta é uma obra de referência quando se quer consultar a história de Tomar e seus arredores.
O dr. João Maria de Sousa faleceu em Tomar a 8 de Agosto de 1905 e está sepultado no Cemitério dos Olivais daquela cidade. Foi avô de outro tomarense também interessado na história da sua terra, Amorim Rosa, responsável pela compilação dos Anais do Municipio de Tomar, pela História de Tomar em dois volumes e por outros trabalhos referentes a Tomar.

11 de abril de 2012

Dr. Henrique Pereira da Motta -Médico de Porto da Lage



O Pantaleão Faria hoje cem anos um dos mais queridos estudantes de Coimbra do seu tempo, onde viveu na Real República Ribatejana. Foi um estudante boémio que conseguiu conciliar o trabalho com a paródia e a graça com a elegância; estava tão à vontade em casa do lavrador como nos salões nobres.
Foi “padrinho” de “O Ponney” um jornal satírico da academia: “S. Ex. o Magnífico Reitor ... foi a Lisboa; ficou instalado no João do Grão...”
Recordo um das inúmeras partidas que congeminou: durante a Queima, ele e o seu amigo Castelão d’Almeida, ambos quintanistas vestidos a imitar lentes, pediram licença para jantar “de Borla e Capelo” no restaurante do Astória. O maitre, surpreendido, aquiesceu sorridente e indicou-lhes a mesa.
No fim, discursaram elogiando-se mutuamente, despediram-se de toda a gente e preparavam-se para sair quando o maitre, contrafeito, fez tenção de lhes entregar a conta.
Em voz alta, manifestaram surpresa, dado que lhes tinha sido concedido jantar “de borla” como qualquer dos ilustres hóspedes poderia testemunhar...
A graça foi compensada; logo houve quem se prontificasse a pagar a conta ...
Foi nesse ano que começou a “Venda da Pasta” em favor do Asylo da Infância Desvalida do Doutor Elísio de Moura, seu professor. Quando me encontrava, queria saber se o Pantaleão “continuava lúcido” ...
Foi um clínico geral notável em Porto da Lage, sua aldeia natal, tendo continuado a conciliar uma dedicação e uma competência exemplares com um espírito brilhante, em especial quando deixou de fumar.
Um dia, parou o carro em local proibido, à frente dum café. A um polícia, que o conhecia e lho fez notar, explicou ir tratar um doente. Tomado o café, ia a entrar no carro quando o polícia lhe perguntou, melindrado:
--Com que então, ia tratar um doente...?
--Era verdade, o doente era eu que precisava dum café....

Morreu há 24 anos, era meu pai e foi meu mestre
.

Texto publicado pelo professor Henrique Carmona da Mota em 14.01.05 aqui




10 de abril de 2012

Manuel de Sousa Rosa o "pai" de Porto da Lage da nossa era.

Manuel de Sousa Rosa nasce em Assentiz em 26 de Novembro de 1827. Descende de gentes que, em meados de quinhentos, já  amanhavam terras e pastoreavam gado no Casal da Pena, Casal da Charruada, Fungalvaz, Beselga, e outras localidades das freguesias de Assentis, Soudos e Santa Eufémia, todas pertencentes ao actual concelho de Torres Novas.

                                         Peter Bruegel, O Velho, casamento camponês, 1568

Quando se casa, em Outubro de 1851 na Igreja de Nossa Senhora da Purificação já não tem pais e não se sabe que tipo de rendimentos aufere e de que vive. Será provavelmente um agricultor remediado que com quatro filhos pequenos, dois rapazes e duas raparigas, decide por volta de 1864 arrendar a Quinta da Belida, em Porto da Lage, pertencente à casa de Vargos. Vinte anos depois a quinta já é sua e, quando morre em 1905 é considerado um abastado proprietário local. Tem mais três filhos e de todos os sete apenas dois não vão viver para Porto da Lage quando casam. Os outros terão uma descendência que irá construir Porto da Lage tal como a conhecemos hoje. Os seus netos, muitos casados entre si, e as suas famílias, constituirão a maioria dos habitantes de Porto da Lage até aos anos sessenta do sec. XX.  Apesar da maioria se ter dispersado pelo país e pelo mundo,  ainda hoje lá vivem alguns dos seus tetranetos.
Eis uma notícia, pouca abonatória à primeira vista (mas quem saberá as razões que terá tido?) sobre Manuel de Sousa Rosa, constante da acta da Câmara Municipal de Tomar de 1 de Julho de 1871: 

" foi presente um requerimento de 6 proprietários da Quinta do Porto da Lage e lugares circunvizinhos, representando que Manuel de Sousa Rosa, da Quinta da Belida , deste Concelho, sendo rendeiro da mencionada quinta, tinha completamente obstruído a estrada pública no sitio de Porto da Lage, junto à ponte que ali se acha reconstruída , tendo desviado a corrente do Ribeiro de Porto Mendo, lançando-o pela estrada pública, e tendo mudado esta para um olival que lhe ficava próximo, ficando de permeio, entre a estrada, a ponte eo mencionado ribeiro, que por este facto impede o transito de pé e cavalgaduras pela dita ponte; acrescendo ainda que a dita estrada está, por este motivo, intransitável, especialmente para o transito de carros, do que tudo resulta  grave prejuízo para os suplicantes, por se lhes dificultar a passagem para as suas propriedades, e também para o público em geral, pois que «aquela estrada é, ainda hoje, muito concorrida». Além disso, tendo-se reconstruído há pouco a ponte que ali existe, fica a mesma ponte inutilizada, em consequência das obras feitas pelo dito Rosa, naquele sitio.
Os suplicantes pediam que Manuel de Sousa Rosa, fosse obrigado a repor tudo no seu antigo estado, ou a fazer as obras necessárias para que o transito público naquele sitio não sofresse prejuízo.
A câmara encarregou o Zelador de ir ao sitio examinar as obras feitas pelo dito Manuel de Sousa Rosa, e informar a Câmara com respeito a este assunto"

A localização da Quinta e o Ribeiro de Porto Mendo ou da Longra
(em Porto da Lage também lhe chamam  ribeiro da Quinta) que vem
desaguar na Ribeira da Beselga em PL, sob a Ponte.







Casas de Porto da Lage



Casa mandada construir por um dos netos de
Manuel de Sousa Rosa por volta de 1920



 Outras casas pertencentes a netos de Manuel de Sousa Rosa



             A única casa existente nos Olivais até meados dos anos
             setenta do sec.xx, foi comprada em 1930 por João Pereira
              da Motta, um dos netos de Manuel de Sousa Rosa.
               

                                                                                                                               E mais....





3 de abril de 2012

Odisseia da ponte de Porto da Lage no sec.XIX




1)    Da Acta da Câmara Municipal de Tomar  de 8 de Dezembro de 1840 "terminou a obra de construção da Ponte sobre a Ribeira da Beselga, junto à Quinta de Porto da Lage, importando em 32$220 réis” 



2)    A câmara compromete-se perante o director das obras públicas de Santarém, a apresentar cal, os carros para a condução das madeiras e os 16$000 réis para o aparelho das mesmas, tudo isto destinado à ajuda para a construção da ponte que a câmara pediu a S.M. a graça de mandar fazer no sitio de Porto da Lage, na estrada velha de Coimbra - Acta da Câmara Municipal de Tomar  de 7 de Abril de 1855.


3)    Ponte da ribeira da Beselga -foi presente o projecto desta ponte de madeira - Acta da Câmara Municipal de Tomar 4 de Julho de 1869


4)    Na sessão de 19 de Maio a junta da paróquia da Madalena solicitou auxilio da câmara para a reconstrução da ponte sobre a Ribeira da Beselga, próximo da Quinta de Porto da Lage, que se achava então em completa ruína, sendo esta ponte de toda a conveniência pública «por ser a antiga estrada real de Lisboa e Coimbra», a qual ainda hoje é muito concorrida, tornando-se sensível a sua falta, em consequência de não haver outra, e por ser aquela Ribeira muito caudalosa -  Acta da Câmara Municipal de Tomar 19 de Maio de 1871.
Nota: as ilustrações são  imagens de lugares com mais sorte que Porto da Lage pois conservam as suas velhas pontes. Não se conhece o aspecto que teria(m) a(s)  ponte(s) de que falamos.



23 de março de 2012

Porto da Lage - Freguesia da Madalena

A localidade de Porto da Lage fica situada na Freguesiada Madalena Concelho de Tomar
 

 A antiga freguesia de Santa Maria Madalena era uma vigararia da Ordem de Cristo, da apresentação da Coroa pela Mesa da Consciência, do termo de Tomar.A Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena, edificada no lugar de nome Madalena, é a sua igreja matriz. 


 
 É um templo com capela-mor, dois altares laterais e dois colaterais.

A capela-mor é revestida de azulejos azuis e amarelos do século XVII, com um padrão pouco vulgar para as igrejas da época

 Os vãos do tecto são forrados com os mesmos azulejos, o que também é pouco comum. Todos os altares, incluindo os colaterais, têm retábulos de talha seiscentista



A sua encantadora galilé

22 de março de 2012

Dia Mundial da Poesia - Porto da Lage e o seu rio

      Ribeira da Beselga
      O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
      Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
      Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
      O Tejo tem grandes navios
      E navega nele ainda,
      Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
      A memória das naus.
      O Tejo desce de Espanha
      E o Tejo entra no mar em Portugal.
      Toda a gente sabe isso.
      Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
      E para onde ele vai
      E donde ele vem.
      E por isso porque pertence a menos gente,
      É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
      Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
      Para além do Tejo há a América
      E a fortuna daqueles que a encontram.
      Ninguém nunca pensou no que há para além
      Do rio da minha aldeia.
      O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
      Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
      Alberto Caeiro

    O Comboio que não chegou a Porto da Lage

    Pelos vereadores encarregados de irem representar a câmara no funeral do presidente da republica [Sidónio Pais] foi comunicado não terem podido desempenhar-se dessa missão, em virtude de se não ter organizado o comboio em que os devia conduzir, pedindo para do caso ser dado conhecimento ao Governador Civil, lamentando o facto.
    Extracto da acta da Câmara Municipal de Tomar, Dezembro de 1918

    Porto da Lage e o Caminho de Ferro

    Cerimónia de colocação da primeira pedra
    Os caminhos de ferro em Portugal começam a ser pensados em 1834 (tinham tido inicio em Inglaterra em 1825) mas só em 1851 foi lançada a primeira pedra. Em 1854 são iniciados os trabalhos de construção da linha entre Lisboa e o Carregado.


    Cerimónia de ínicio dos trabalhos
    E em 1856 é inaugurado o troço entre Lisboa e Carregado

           
    Cerimónia da chegada do primeiro comboio ao Carregado.

    Finalmente em 1864 a Linha do Norte está completa entre Lisboa e Gaia (margem esquerda do rio Douro, no Porto). Porto da Lage passa a ter comboios a parar (só às vezes pois é uma estação de 4.ª categoria, só meses depois tem direito a receber o correio) na sua estação chamada "incorrectamente" de Paialvo. Com tantas cerimónias é provável que tenha havido também uma de inauguração da nossa estação, e se não houve, o que foi muito injusto,  pelo menos os nossos avós devem ter-se colocado à beira da linha a ver, pela primeira vez passar aquela estranha máquina.


    Cerimónia de inauguração da .....estação de
    Paialvo (mentira, mas se não foi assim foi melhor,
    de certeza mais pitoresco).(1)


    (1) imagem retirada deste blog

    19 de março de 2012

    O Fim da passagem da Estrada Real por Porto da Lage

    Em 28 de Março de 1791, reinado de D. Maria I  é publicado o seguinte  Alvará:  «Eu a Rainha. Faço saber aos que este Alvará virem: que tendo entendido o estado de ruína em que se acham as Estradas Públicas do Reino, ainda a mais principal delas, que comunica esta capital com a Cidade do Porto […]. Resolvi mandar proceder às Obras de Construção das Estradas principais, dirigidas á cómoda, e útil comunicação interna deste Reino; Ordenando que elas fossem gradualmente construindo pelo Método, Regulamento, e Plano, que tenho determinado».

    Em termos de política de transportes rodoviários, se assim se pode chamar, era a primeira vez em Portugal que se assistia a uma reflexão desta envergadura.
    O decreto de 1793  afirma:
    … assim como os rios tornados navegáveis contribuem para o esplendor, e opulência das Províncias, e Cidades, que regam, facilitando assim a comunicação de umas a outras Povoações, e o transporte dos géneros, produções, e mercadorias, da mesma maneira a construção das estradas públicas contribui para o mesmo fim, e dá igualmente a conhecer o estado de Policia, em que se acham os povos, e não é hum dos menores monumentos da grandeza dos Romanos os vestígios, que ainda se encontrão daquelas estradas, que desde as praças da Capital se dirigiam a todos os limites do Império Quis S. Majestade também distinguir o seu Reinado com estas demonstrações da grandeza do seu animo Real; nomeou para Inspector desta grande obra a José Diogo Mascarenhas Neto, e se começou logo com actividade, facilitando-se ao presente a estrada, que de Lisboa conduz até Coimbra; abandonou-se a antiga que pela inundação do Campo da Golegã se fazia muitas vezes impraticável, e para maior cómodo dos viandantes se instituio hum coche de Posta, que em certos, e determinados dias parte de Lisboa, e de Coimbra; Continua-se a mesma estrada, que em breve chegará ao Porto.

    Coche de Posta
    E foi assim que, nos finais do sec.XVIII se deu o primeiro declinio de Porto da Lage, na altura uma quinta e uma estalagem  situadas num ponto estratégico e importante, junto à principal estrada real. Após a construção da estrada de Lisboa a Coimbra, passando por Rio Maior e Leiria, a "velha" estrada cai em desuso e com ela as antigas estalagens situadas à sua beira, também a da Golegã, famosa hospedaria que deu origem à vila (pertencia, dizem, a uma galega e daí se teria originado o nome golegã ) entra em declinio. Anos depois, a velha ponte sobre a Ribeira da Beselga cai de todo e a ribeira naquele local só é passável a vau, quando a natureza deixa. Nos anos quarenta do século XIX é reconstruída, depois desaparece novamente, para ressurgir, pela última vez, em 1933. Ainda lá está.(MFM)

    Em Porto da Lage - A Estalagem à beira da Estrada Real



     Até finais do sec. XVIII a Estrada Real entre Lisboa e Coimbra, segundo o Roteiro Terrestre de Portugal do Padre João Baptista de Castro, depois de Santarém tinha o seguinte percurso: Lagar, Ponte do Alviela, Almonda, Golegã, Lamarosa, Paialvo, atravessava a Ribeira da Beselga em Porto da Lage onde existia uma Estalagem para descanso e alimentação de pessoas e animais, para além de muda de cavalos e seguia passando em frente da Igreja de S.Silvestre direita a Chão de Maçãs, Rio de Coiros, etc.


    18 de março de 2012

    Porto da Lage em 1763

    Para fazer face às despesas da Guerra da Restauração D. João IV cria um imposto sobre 10%  dos  rendimentos da propriedade e do trabalho de cada português – a chamada décima.
    Os Livros da Décima, os que ainda restam após a devastação ocorrida com o Terramoto e estão à guarda do Tribunal de Contas, constituem uma fonte preciosa de informação sobre as localidades, quem as habitava, incluindo mulheres e pobres, e que tipos de rendimentos usufruíam.
    Eis o que nos dizem aqueles livros sobre  os "contribuintes" de  Porto da Lage em 1763:

    Manuel Pereira de Sousa é o maior proprietário possue um prazo ou quinta composta de terra de pão e vinho e azeite que rendem um ano por outro 60300 reis”.  Além desta possui várias outras propriedades e casas, algumas arrendadas, que lhe engrossam os rendimentos e o fazem pagar de imposto  8730 reis.
    Segue-se o Doutor Raimundo José de Sousa neste ano Juiz de Fora da Golegã, posteriormente será Desembargador, com “uma quinta com terras de pão, vinhas e olivais” que rende   36600 reis. Possui “mais vários olivais fora dos muros da quinta que rendem um ano por outro cinquenta alqueires de azeite mais 2 000 reis”.Paga de Imposto 2770 reis.
    O Estalajadeiro João Rodrigues possui, além do rendimento obtido pelos serviços prestados na sua estalagem, de cujo edifício paga renda ao Doutor Raimundo, uma vinha à Ramalheira, de q paga renda ao Doutor Raimundo Sousa três alqueires de trigo q lhe rende um ano por outro além do dito foro oitocentos e vinte réis. Paga de imposto 254 reis.
    Por último João Pereira, Moleiro, além do moinho de que também é foreiro, possue um bocado de terra na ramalheira, um bocado de vinha, uma terra junto as caias dallém e desta paga renda ao Doutor Raimundo. Paga de imposto 171 reis.

    Natural de Porto da Lage num desígnio nacional

    O Prof. Henrique Carmona da Mota e o Decréscimo da Mortalidade Infantil em Portugal.


                                                

    entrevista  aqui

    17 de março de 2012

    Disturbios em Porto da Lage (continuação)

    Continuam os abusos na estação de Paialvo com bulhas entre os cocheiros, que dizem obscenidades e disputam, à força, os passageiro.
    Jornal “A Emancipação” 13 de Abril 1879

    Disturbios em Porto da Lage

    “ Nesta sessão  compareceu o Dr. José de Melo, Administrador deste concelho que declarou que sendo um facto público o mau serviço praticado na Estação de Payalvo pelos  cocheiros e condutores auxiliares dos veículos que para ali fazem carreira, pertencentes a Francisco Pereira da Silva Sardo e António Pereira Campeão Sobrinho, desta cidade, o que tem dado lugar a diferentes queixas por parte do público, principalmente em virtude das violências praticadas pelos referidos cocheiros e condutores para com os passageiros a quem têm chegado a rasgar o fato, na ocasião de os puxarem para entrarem nos seus respectivos veículos, para lucrarem o preço do transporte, tendo essas ocorrências motivado tais desinteligências entre os sobreditos cocheiros e condutores que os têm levado à desordem.
    Que são tão lastimosos estes acontecimentos e tão reconhecidos pela câmara a necessidade de os fazer cessar, que já para esse fim tem mandado à estação o seu zelador, mas como nada conseguisse, oficiou a mesma Câmara à Administração do Concelho pedindo-lhe o seu auxilio para o serviço de policia na mesma estação. Em vista dessa requisição e no cumprimento dos seus deveres, remeteu um exemplar das Posturas ao Regedor da Madalena, recomendando nessa ocasião que se apresentasse na Estação de Paialvo  à chegada dos comboios o maior número de vezes possível, e que fizesse cumprir rigorosamente as Posturas Municipais.
    Sentia que todas as medidas até hoje adoptadas não tivessem produzido um resultado satisfatório parecendo até que era crescente o mau serviço na Estação, pelo que lhe parecia que a frequência dos abusos ali praticados só poderia evitar-se indo os dois oficiais de diligências alternadamente cada um deles, encarregados de fazer o serviço de policia na aludida Estação à chegada de todos os comboios".
    in sessão da CMT de 17 de Março de 1879.

    O Rei D.Carlos em Porto da Lage, 1901

     “Em direcção aos Vales para tomar parte nalgumas caçadas promovidas por António Peres, aos javalis, que por aqueles sítios abundam, passou por esta cidade 5.ªfeira El-rei D. Carlos. Na estação de Paialvo foram esperá-lo: a Câmara Municipal; capitão Freitas, Administrador do Concelho; Conselheiro João Tamagnini Barbosa e Corpo Judicial. Quando chegou o comboio, a Filarmónica de Paialvo executou o Hino da Carta”.

    in jornal «A Verdade», 5 de Maio de 1901

    O Rei D.Carlos numa caçada, nos Vales, Ferreira do Zêzere.
    "De regresso dos Vales, onde foi tomar parte numa caçada aos javalís, em que foi morto um destes animais e feridos dois ....à estação de Paialvo, foram de Tomar acompanhar El-Rei, numerosos cavalheiros. Consta-nos que El-Rei ficou muito satisfeito da maneira como foi recebido".

    in jornal «A Verdade», 12 de Maio de 1901

    A Rainha em Porto da Lage em 1900

    A Rainha D.Amélia e os doisfilhos Luís Filipe
     e Manuel em 1893, foto retiradade um album
     de fotos da família real (nada tem a ver com a citada vizita)
    «No dia 6 de abril de 1900 veiu de visita a Thomar, inesperadamente, a rainha Senhora D.Amelia de Orleans, acompanhada pelos seus dois filhos D. Luiz Filippe e D. Manuel, e pelos dignitários de serviço. Foi recebida pela Camara que a foi esperar ao principio da estrada de Payalvo, onde os trens se encontraram, sendo o Municipio representado por mim e pelos vereadores Lima, Silverio e Ernesto Campeão. Visitou os Paços do Concelho, o convento de Christo, e as egrejas da Senhora da Conceição, de S. João, de Santa Iria e de Santa Maria dos Olivaes e as fabricas do Algodão e do Prado. A Camara, que sempre a acompanhou n'estas visitas, acompanhou-a tambem ate a estacão de Payalvo, onde entrou no comboio expresso em que viera e em que regressou a Lisboa, mostrando - se satisfeita peIa maneira como foi recebida. Em sessao de 19 do referido mez a Camara deIiberou congratuIar-se com esta visita.
    A rainha deixou ao presidente da Camara, que eu era, a quantia de 100$000, sendo 60$000 rs. para os pobres e 40$000 rs para as duas phiIarmonicas que tocaram durante as poucas horas que sua Magestade foi visitante da nossa cidade; assim foram distribuídos.»
    In “J.Torres Pinheiro, Quatorze annos de Administração Municipal e Alguns subsídios para a história de Thomar edição do autor, 2.ª edição, Lisboa 1920 (pgs.76,77)

    16 de março de 2012

    Capela de S.João em Porto da Lage


    Capela construída no inicio dos
    anos 70 do sec. XX
      Sem o saber, o dr. Henrique Pereira da Motta, que erigiu esta ermida, seguiu um "arquétipo" fenício. A começar pela escolha do sítio, nos Vales ou junto aos Vales. Este topónimo não tem a ver com a orografia (se o tivesse seria um contra-senso porque fica num alto) mas com a antiga cultura e religião dominante: a fenícia. Vales é uma deformação de Baal (Senhor) a divindade suprema da Fenícia. O facto de ter sido erigida num cabeço também está de acordo com as religiões semitas que se sentem atraídas pelas alturas. Esta acrofilia também se verifica ao nível da religião popular portuguesa.
    A capela é dedicada a S. João. Ora S. João, no entender de Moisés Espírito Santo "encontra-se associado a uma divindade popular fenícia que é o Sol, ao messianismo hebraico...Antes de mais, S. João é deus solar...Baalseiman (Deus Sol)...A sua parceira era a Lua (Ishtar)..." A festa de S. João representa a cristianização de um antigo culto solar.
    A forma hexagonal da capela..."corresponde ao perímetro do emblema solar formado por dois triângulos cruzados (o signo de seimão), um emblema do Sol, por referência à divindade Baal Seiman, Senhor Sol. O perímetro hexagonal sob o qual assenta a capela (de Gulpilhares) seria a "casa do Sol" (V. Moisés E.S. "Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa")
    As formas mais antigas dos cultos fenícios tinham lugar em sítios altos, ao ar livre, recorrendo a pedras como meio de sinalizar o local sagrado. As Pedras, conhecidas por bétilos representavam não a divindade, mas "Beth El", a casa de Deus. O local onde foi construída a capela era um local pedregoso, de tal modo que um poema que o dr. Motta escreveu para a inauguração começava com estas palavras: "Entre as pedras foi erguida..."



    Porto da Lage e os transportes no ínicio do sec.XX

    carro- tipo referido no texto.

    Quando não havia ramal de Tomar, os passageiros saíam do comboio em Porto da Lage onde havia carros de mulas para os levar à cidade. Havia três classes como nos comboios; os preços eram diferentes mas os lugares eram semelhantes. Aos que reclamavam, o tio Manuel Augusto replicava que mais tarde perceberiam a razão.
    No início das subidas mais suaves, apeavam-se os da terceira classe; depois os da segunda e, por vezes, os da primeira.Nas ladeiras mais íngremes os da terceira eram chamados a empurrar e assim sucessivamente até que, perto do cume, até os da primeira, contrariados, ajudavam. Era em Cem Soldos.

    (texto publicado  aqui por H.C.M em 25.3.07)

    Baptismo de Josepha, natural de Porto da Lage



     Cópia do livro de Assentos de Baptismo
    1691-1713 da Paróquia da Madalena - Tomar, ANTT

    "Ao primeiro dia do mês de setembro de mil seiscentos e noventa e sete anos baptisei e pus os santos óleos a Josepha filha de Joseph Lopes e de sua mulher Maria Lopes moradores no porto da lagem. Padrinho Joseph Godinho Ribeiro por procuração de Luísa Reis da Ribeira de ...... Bispado de Leiria e por ser verdade fiz este termo que assinei dia e mês dra ut sup
    Frei António Amador "

    A mãe e a Criança- Jon Steen (1625-1679)

    15 de março de 2012

    Porto da Lage e a Estação de Paialvo


    Porto da Lage, tal como a conhecemos, nasceu com a chegada do comboio em 1864.
                  A Linha do Norte, no seu traçado entre o Entrocamento e Coimbra tinha, duas paragens à frente daquele, uma pequena estação de 4.ª categoria, chamada de Payalvo, localizada precisamente em Porto da Lage.



    Mas Porto da Lage, ou Porto da Lagem, já existia. Localização de um Moinho na Ribeira da Beselga, de uma estalagem à beira da velha Estrada Real que durou até finais do sec.XVIII ou nome de Quinta, Porto da Lage sempre esteve ali- varzea à beira da Ribeira da Beselga,

    14 de março de 2012

    O Que viu Lady Jackson?



                                        
                                                     Imagens de Portugal rural da época, retratadas pelo percursor
                                                     do Naturalismo em Portugal - Silva Porto