Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

Si hortum in biblioteca habes deerit nihil
Todos os textos aqui publicados podem ser utilizados desde que se mencione a sua origem.

6 de abril de 2013

Em Cima da Mesa




A" narrativa" do "em cima da mesa" "faz sentido" ou "é incontornável" e "expectável"?

Não sei, sinceramente, o que é pior:
 1. "o cenário dramático em que estamos envolvidos", com "as mudanças de protagonistas que se   avizinham";
 2. o discurso mediático "em presença" sincopado e de uma pobreza vocabular miserável que já me obrigou a ouvir "pôr em cima da mesa" em uma hora, mais do que aguenta um empregado de restaurante em 40 anos de trabalho;
3. esta minha desgraçada garganta que não me deixa fugir daqui (essa de desligar a televisão é só simples de dizer, adiante ...).
 
Esta minha profunda, visceral mesmo, fúria contra o lugar comum faz-me levantar os olhos ao céu e rogar a todos os deuses, de todos os tempos, e aos seus ministros e heróis,e a todas as forças, mesmo do menos bem, do mal não digo,  que, sem ironia, ponham em cima das suas mesas a possibilidade de tornar pecado, mortar sim, mortal, a gente ser agredida com a terminologia jornalistico-snob-urbana que para além de reduzir a língua portuguesa à mais ínfima espécie, torna os jovens pobres imbecis que, coitados, pouco mais que grunhem, incapazes de perceber as gerações mais velhas.
Cá vão algumas das ditas, para que possam lá pôr em cima o que entenderem de útil para o fim em vista:




Com a minha homenagem às respeitosas mesas, daquele lugar comum necessário e merecedor de consideração que é o dia de todos os dias, mesas burguesas de naperon, do campismo proletário das sardinhas de verão e dos sitios onde se produz
 :







4 de abril de 2013

Sinais





Sinal triste, mesmo trágico, foi esta casa sempre (e o sempre já vai longo) para mim. Passava por aqui e as paredes e ombreiras nuas enegrecidas pela passagem do fogo, sugeriam-me vidas subitamente acometidas pela adversidade, gente feliz a quem o azar brusco interrompera a esperança e quebrara o alento para recomeçar. Razões para estas minhas fantasias residiam, talvez, em ter ouvido que a casa era nova quando ardeu e em verificar a imponência da estrutura restante que, apesar de danificada, parecia facilmente reparável. Mais tarde, vi-a já de telhado arranjado e vidros postos, pouco mais ou menos como se apresenta na figura mas em novo. Porém, o ar desgraçado mantinha-se, como se um destino funesto se tivesse apoderado da essência do edifício e o obrigasse, através das imensas janelas ogivais, a transmitir uma imperecível melancolia. E lá está ela, vê-se, eterna testemunha de que, às vezes, as obras dos homens, mais do que eles pois são mais duradoiras, perpetuam as marcas de sofrimento de quem as fez nascer.(MFM)


Em memória de A.M. “a melhor pessoa do mundo e a quem mais desgraças aconteceram, mesmo depois de morto”, como muito bem o ouvi definir. Eterna recordação de um adulto adorável presente na minha infância.                                   

31 de março de 2013

Boa Páscoa




Um dá o mote: "Ressuscitou como disse?" ao que os restantes
 respondem - ALeluia! Aleluia! Aleluia!
Festa das Tochas Floridas de São Brás de Alportel
Minha aldeia na Páscoa...                                      
Infância, mês de Abril!                                      
Manhã primaveril!
A velha igreja.
Entre as árvores alveja,
Alegre e rumorosa
De povo, luzes, flores...
E, na penumbra dos altares cor-de-rosa .
Rasgados pelo sol os negros véus.
Parece até sorrir a Virgem-Mãe, das Dores.


                                                

                                                

                                                

                                                 Ressurreição de Deus! (...)
                                                 Em pleno azul, erguida
                                                 Entre a verde folhagem das uveiras.
                                                 Rebrilha a cruz de prata florescida...
                                                 Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal.
                                                 Ébrias de cor, tremulam as bandeiras...
                                                 Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
                                                 Ei-lo que entra contente nos casais;
                                                 E, com amor, visita as rústicas choupanas.
                                                 É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
                                                 As grandes alegrias sobre-humanas.
                                                 Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
                                                 Linda manhã, canções de passarinhos!
                                                 A campainha toca: Aleluia! Aleluia! (...)
                                                 Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus.
                                                 E mães, acalentando os filhos no regaço.
                                                 Esperam o Compasso...
                                                 E, ajoelhando com séria devoção.
                                                 Beijam os pés da Cruz.


                                                 Teixeira de Pascoaes (1877-1952)

26 de março de 2013

Semana Santa

  A Meritocracia Tuga e a Felicidade na Repartição



Lisboa, 1700

Sermão da Primeira Oitava
da Páscoa* (1647)
Duo ex Discipulis Jesu ibant ipsa die in castellum
nomine Emaus. Luc., XXIV.

IV
[...] Os que se contentam, como S. Pedro, só com ver, são finos. Os que se contentam, como a Madalena, só com que lhes saibam o nome, são honrados. Os que se não contentam, como S. Tomé, senão com o lado, são ambiciosos. Os que se não contentam, como os de Emaús, senão depois de lhes darem o pão, são interesseiros. E os que com todas estas cousas ainda se não contentam? São portugueses.
Verdadeiramente, que se os Portugueses se contentaram, como os Discípulos, não houvera reino de mais contentes que Portugal. Eu já me contentara que fôramos como os que nesta ocasião fiaram menos delgado. Os Discípulos que nesta ocasião andaram menos finos, foram os de Emaús, que não conheceram senão quando lhes deram: Porrigebatillis; mas ainda estes nos levaram muita vantagem. Porquê? Porque se contentaram com o Senhor lhes partir o pão: In fractione panis. Os Portugueses não se contentam com se lhes dar o pão partido; há-se-lhes de dar todo o pão, sob pena de não ficarem contentes. Daqui se segue que nunca é possível que o estejam.
 
As vestiduras de Cristo, que era o manto, e a túnica, dividiram-nas entre si os soldados que o crucificaram: mas com esta diferença: Os quatro soldados, a quem coube o manto, partiram-no em quatro partes, e ficaram contentes todos quatro. Os quatro, ou fossem os mesmos ou diferentes, a quem coube a túnica, não a quiseram partir, jogaram-na; levou-a um, e ficaram descontentes três. Pois porque razão descontentou a túnica a três, se o manto contentou a quatro? É bem fácil a razão. Os quatro a quem coube o manto, acomodaram-se com que o manto se partisse. E quando os homens se acomodam a que as cousas se partam, e se repartam; com o que se cobre um se podem contentar quatro. Os soldados a quem coube a túnica, não trataram deste acomodamento; cada um quis toda a túnica para si: Non scindamus eam, sed sortiamur de illa.
 
E quando os homens são de tal condição, que cada um quer tudo para si, com aquilo com que se pudera contentar a quatro, é força que fiquem descontentes três. O mesmo nos sucede. Nunca tantas mercês se fizeram em Portugal, como neste tempo; e são mais os queixosos, que os contentes.
Porquê? Porque cada um quer tudo. Nos outros reinos com uma mercê ganha-se um homem; em Portugal com uma mercê, perdem-se muitos. Se Cleofas fora português, mais se havia de ofender da ametade do pão que Cristo deu ao companheiro, do que se havia de obrigar da outra ametade, que lhe deu a ele. Porque como cada um presume que se lhe deve tudo, qualquer cousa que se dá aos outros, cuida que se lhe rouba. Verdadeiramente, que não há mais dificultosa coroa que a dos reis de Portugal: por isto mais, do que por nenhum outro empenho.
Quando Josué houve de entrar à conquistada Terra de Promissão, disse-lhe Deus desta maneira: Confortare, et esto robustus, tu enim divides populo huic terram. Josué, esforçai-vos, e tende grande valor, porque vós haveis de repartir a terra a esse povo. Notáveis palavras na ocasião em que se disseram! Quando Deus disse estas palavras a Josué, foi quando ele estava com as armas vestidas para passar da banda dalém do Jordão a conquistar a Terra de Promissão. Pois porque não lhe diz Deus, esforçai-vos, e tende valor, porque haveis de conquistar esta terra aos inimigos, senão, esforçai-vos, e tende valor, porque haveis de repartir esta terra ao povo de Israel? Ambas as cousas havia de fazer Josué; havia de conquistar a terra aos Amorreus, e havia de repartir a terra aos Israelitas; mas Deus esforça-o, diz-lhe que tenha valor, porque havia de repartir e não porque havia de conquistar a terra; porque muito maior empresa, e muito mais arriscada batalha era haver de repartir a terra aos vassalos que haver de conquistar a terra aos inimigos.
Em nenhuns reis do mundo se vê isto mais claramente que nos de Portugal. Conquistar a terra das três partes do mundo a nações estranhas, foi empresa que os reis de Portugal conseguiram muito fácil e muito felizmente; mas repartir três palmos de terra em Portugal aos vassalos com satisfação deles, foi impossível, que nenhum rei pôde acomodar, nem com facilidade nem com felicidade jamais. Mais fácil era antigamente conquistar dez reinos na Índia, que repartir duas comendas em Portugal.
Isto foi, e isto há-de ser sempre: e esta, na minha opinião, é a maior dificuldade que tem o governo do nosso reino. Tanto assim, que se pode pôr em problema na política de Portugal, se é melhor que os reis façam mercês, ou que as não façam?
Não se fazerem mercês, é faltar com o prémio à virtude: fazerem-se, é semear benefícios para colher queixas. Pois que hão-de fazer os reis? A questão era para maior vagar. Mas porque não fique indecisa, digo entretanto, que um só meio acho aos reis para salvarem ambos estes inconvenientes. E qual é? Não dar nada a ninguém, e premiar a todos. Pois como? Premiar a todos sem dar nada a ninguém? Sim: o dar e o premiar são cousas mui diferentes. Dar aos que merecem, ou não merecem, é dar; dar só aos que merecem, é premiar. Não fazerem mercês os reis, seria não serem reis: mas hão-de fazê-las de maneira que as mercês não sejam dádivas, sejam prémios.  Dêem os reis só aos beneméritos, e fecharão as bocas a todos. Quando os prémios se dão aos que merecem, os mesmos que os murmuram com a boca, os aprovam com o coração. Murmurais do que está bem dado? Apelo da vossa língua para vossa consciência. Este é o único remédio que têm os reis para salvarem a opinião naquele tribunal, onde só neste mundo podem ser julgados, que é o coração dos vassalos.
Enfim sejam os príncipes como Cristo no repartir, e sejam os vassalos como os Discípulos no contentar-se, e cessarão as queixas.
 
Padre António Vieira

25 de março de 2013

Frases a Metro

O que se ouve nos metropolitanos de Lisboa e de Londres, exactamente com o mesmo fim.


Em Lisboa:
- Senhor passageiro, para sua segurança não ultrapasse ou pise a faixa amarela junto ao bordo do cais!

Em Londres:
- Mind the Gap!


Os linguistas têm, com certeza, uma explicação para isto. Mas, seja ela qual for, cá para mim só pode ser parente daquela [explicação] que leva o metro de Londres a ter completado agora 150 anos e o nosso 50, que os mapas respectivos sejam os que seguem e a muitas, muitas mais coisas, que não têm nada a ver com metros, mas que me estão agora a ocorrer, a mim e a quem me está a ler, ou não?
Metro de Lisboa

Metro de Londres

20 de março de 2013

Quem é Quem I ?



Esta fotografia, muito popular em PL pois chegou-me através de várias mãos, terá mais vinte/vinte e cinco anos que a outra, alguma desta juventude portalagense dos anos quarenta será filha  daquelas jovens. Desta feita, porém, já sabemos quem eles são, graças à Dulcinda Teixeira (a terceira linda rapariga a contar da esquerda na última fila, em pé), a quem agradeço, que identificou toda a gente.





Em cima da esquerda para a direita: E.Teixeira, M.Mourão, M.R.Vasconcelos, D. Teixeira, H.A.Narciso, L.Nunes, M.F.Narciso, R.Mota, M.R.Teixeira, C.Mota, A.Simões, H.Carmona da Mota, L.Sousa, A.Carmona da Mota, A.Sousa, M.L.Escudeiro


Em memória de Arminda Mota Teixeira que estava presente enquanto a irmã identificava esta fotografia, interrogando-se sobre o motivo por que lá não constava. Era uma portalegense (n.30.03.1926) conhecida e muito querida de todos em PL. Deixou-nos o mês passado, que descanse em paz. (MFM)