28.05.1880 |
Fotografia de José Leitão Bárcia, Arquivo Municipal de Lisboa. Infelizmente não encontrei fotografias que ilustrem a recepção na gare, dos Exmos Marqueses e sua filha, pela Câmara Municipal e diversos cavalheiros, abrilhantada pela música da Banda dos Carrascos e o fulgor das girândolas de foguetes a subirem no ar. Mas tenho pena, apesar da riqueza da prosa não deixar nada a desejar, devia ser coisa linda de ser vista. Porém, tenho muito mais pena de não encontrar qualquer imagem da estação de Paialvo destas épocas. Quem me arranja uma?! Acredito que haverá, com tanta gente ilustre, até reis e rainhas, a embarcar e desembarcar por ali! Enquanto não aparecem as desejadas fotos, imaginemos-las com recurso a esta, da vizinha Chão de Maçãs, roubada do blog AUREN. (MFM) |
Imagem publicada no Occidente em 21.09.1889 |
António Bernardo da Costa Cabral (1803-1889) governou Portugal entre 1842 e 1846 e depois por mais um curto período compreendido entre 1849 e 1851. Apesar de ter tido sempre contra si uma oposição tenaz, pelas medidas tomadas, o que fazia com que os seus inimigos o apelidassem de "segundo marquês de Pombal", a rainha manteve-se persistentemente a seu lado, o que originou boatos de romance entre os dois. Estes rumores atingiram foros de verdadeiro escândalo quando a soberana o tornou "Conde de Tomar", precisamente numa visita que fez com o marido aos novos domínios de Costa Cabral - O Convento de Cristo. Em 1837, após as nacionalizações dos bens conventuais, o agora Conde havia adquirido o Convento e a cerca, com construções e muralhas, por cinco contos de réis numa venda, dizia-se, favorecida politicamente.
Àquele filho de uma família modesta de Fornos de Algodres, licenciado em direito em Coimbra, não lhe bastava o título, desejava ser um conde à séria, como os antigos, queria um "condado", pelo que continuou comprando terras que anexava às primeiras, como o convento e a quinta da anunciada Velha.
Àquele filho de uma família modesta de Fornos de Algodres, licenciado em direito em Coimbra, não lhe bastava o título, desejava ser um conde à séria, como os antigos, queria um "condado", pelo que continuou comprando terras que anexava às primeiras, como o convento e a quinta da anunciada Velha.
Após deixar o governo, o desterro nos seus domínios em Tomar, foi entremeado pela vida diplomática, tendo, no fim da vida , entre 1870 e 1885, sido responsável pela embaixada de Portugal na Santa Sé, na época do estertor dos Estados papais e da reunificação italiana tendo desempenhado papel de relevo na intermediação da chamada Questão Romana (1). Pelos seus serviços recebe a Torre e Espada e é elevado a Marquês de Tomar em 1878. Terá sido numas férias do seu desempenho diplomático em Roma que desceu e foi recebido com toda a pompa, na estação de Paialvo, a caminho de Tomar, como refere pormenorizadamente a noticia.
Foi por seu intermédio que a vila de Tomar foi elevada a cidade em 1848, mas hoje , parece-me, só por lá será lembrado por ser nome de rua e, talvez, pela existência de inúmeros Costa Cabral, pessoas sérias e penso que orgulhosas do seu nome, descendentes do último conde, neto do primeiro, e de várias e bonitas camponesas, moradoras nas suas terras, às quais reconhecia os filhos e agraciava com uma casa e subsistência vitalícia. Dizia deste conde, a minha avó, sua vizinha, que, para além de um belo homem, era um cavalheiro e uma boa alma. Das suas conversas destacava as preocupações com o estado do mundo e o futuro dos filhos. Teria razões para isso. Todos os seus bens estavam hipotecados e acabaram comprados em hasta pública, em 1934, pelo Estado. (MFM)
(1) Muito interessante o trabalho sobre este assunto de António Pinto de França "Costa Cabral nos dias da queda da Roma Papal em 1870", Separata de Cultura-revista de história e teoria das ideias. Vol.XI, 2ª série, Centro de História da Cultura,Universidade Nova de Lisboa.