Si hortum in biblioteca habes deerit nihil

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Todos os textos aqui publicados podem ser utilizados desde que se mencione a sua origem.

19 de abril de 2012

Juíz de Vintena de Porto da Lage


Comunidades pequenas, desde que contassem com um mínimo de vinte moradores, podiam ter um juiz de vintena, designado pela autoridade municipal em cujo termo a localidade se encontrasse. Esses juízes podiam ordenar prisões - mesmo que os acusados não fossem moradores do lugar - desde que cometessem delitos na sua jurisdição ou já estivessem sendo procurados por mandado de autoridade competente. No entanto,  não estavam habilitados para efectuar julgamentos ou aplicar penas,  obrigando-se a encaminhar os detidos para o juiz ordinário. Também não tinham competência para julgar causas cíveis envolvendo bens de raiz, mas podiam resolver, dentro de limites predeterminados, as controvérsias entre vizinhos do seu termo. Essa alçada era fixada por faixas, partindo de 100 reis, nos vilarejos com menos de 50 moradores, até atingir o valor máximo de 400 reis, nos povoados com mais de 200 habitantes
Em 1 de Janeiro de 1748, segundo o livro dos acordãos camarários da Câmara de Tomar, terão sido eleitos os Juízes de Vintena das freguesias da época, sendo os seguintes os da Freguesia da Madalena:
Carvalhal Pequeno, António Lopes, de aí
Marmeleiro, Manuel Rodrigues, de aí

Cem Soldos, Manuel da Mota, de aí
Beselga, António de Sousa, da Quinta de Porto da Lage


        Padrão do Senhor Roubado de Odivelas, de 1744,  que relata,em azulejos mono cromáticos o roubo sacrílego de     objectos religiosos. Trata-se de   doze  painéis historiados, cada um composto por 72 azulejos, com legenda explicativa sobre as cenas do roubo.
        

Família de Diogo Alvares de Sousa (continuação)

Nos finais do sec. XVIII, os últimos morgados de Vargos morrem sem geração directa e aquele que será o último Manuel Pereira de Sousa, que morrerá solteiro e igualmente sem filhos, herda, por via feminina, aquela casa e lá passará a viver. A quinta da Belida continua a pertencer à família, através da irmã,  mas fica entregue a rendeiros, até o último, Manuel de Sousa Rosa, a comprar e a quinta desaparecer, por fim,  no inicio do sec.XX.

16 de abril de 2012

O sec.XVII em Porto da Lage


Azulejos sec.XVII.Museu Nacional do Azulejo

Não se conhecem acontecimentos em Porto da Lage nos anos de mil e seiscentos, salvo o de alguns, poucos, casamentos e baptisados. Factos da vida de todos os dias desde que há homens à face da terra: a formação da família e o nascimento de crianças.
Em meados do século, quando o Rei-Sol começava o seu reinado que faria escola em toda a Europa com o seu poder absoluto, o estilo barroco imperava na arte a favor da contra-reforma e a revolução cientifica tinha lugar, em Portugal lutava-se pela independência de Espanha.
Imagina-se que em Porto da Lage e em todos os campos à sua volta, os povos se alegravam (sejamos patriotas optimistas) com a libertação do jugo estrangeiro mas simultaneamente choravam pela possíbilidade da guerra lhes vir roubar os filhos, queimar os campos e, melhor das hipóteses, lhes encarecer a vida.
Por essa época o Dr. Diogo Alvares de Sousa, formado em leis em Coimbra, inicia a sua própria família no seu "Casal da Ribeira" (pensa-se que será a quinta da Belida) em 1656, a qual dará origem a três gerações de Manueis Pereira de Sousa que aqui viverão até 1800.
Assento de casamento de Diogo Alvares de Sousa
com Ignácia Correa, 2.02.1656
Diogo Velasquez -Mulher fritando ovos. Seria assim a vida nas casas
de Porto da Lage de seiscentos?



Assento de baptismo de Ignácia, neta de Diogo Alvares de
Sousa, filha do seu filho Manuel Pereira de Sousa, 17.11.1692

15 de abril de 2012

A Escola no sec.XIX -ainda não em Porto da Lage


"A junta da Paróquia da Madalena pretende o estabelecimento de uma cadeira de primeiras letras no lugar de Cem soldos, o mais populoso da freguesia, a qual pode ser utilizada pelos povos limítrofes. da freguesia de S. Silvestre da Beselga" (Actas da Câmara Municipal de Tomar -1840). Neste ano a Madalena tem 258 fogos e S.Silvestre 150.

                                                                                


O Orçamento do  ano de 1842 da Câmara de Tomar tem o valor de 1.886$301 reis e nele estão previstos, entre muitas outras despesas, um médico e um cirurgião do partido, seis professores primários, dos quais um na Madalena e um em Cem Soldos.

A Escola em Porto da Lage

A escola primária em Porto da Lage teve ínicio, segundo memória de alguns, em 1928.
Foi construída em terrenos comprados expressamente para este efeito por João Pereira da Motta, que os ofereceu para neles ser construído o futuro edíficio escolar.
Edificio esse que se manteve até ínicios dos anos setenta, quando, por falta de manutenção, ameaçou ruir e os alunos foram obrigados a frequentar instalações provisórias até a actual escola estar a funcionar.


A antiga escola era um edíficio com fachada identica a
esta, duas salas de aula, uma para cada sexo, um alpendre
 e um pátio traseiros.
Local onde se situava a antiga escola, em frente ao "ri
beiro da Quinta" e onde se encontra agora esta bisarra
vivenda.

                                 

12 de abril de 2012

A «União Fabril» em Porto da Lage

Armazèm da CUF em PL onde se pode
 ler a data: 1877

A companhia União Fabril - CUF - está indelevelmente ligada ao crescimento de Porto da Lage. Em 1877 a companhia estabelece nesta localidade um armazém destinado a arrecadar os seus produtos transportados pelo caminho de ferro e cá descarregados  (na estação de Paialvo). Daqui partem, primeiro em carros puxados por animais depois em camionetes, para serem distribuídos por toda a região. A CUF teve uma importância histórica em todos os ramos da economia portuguesa durante mais de um século, como se pode verificar com todo o detalhe aqui . No seu caso Porto da Lage contribuiu como entreposto para a distribuição de fertilizantes agrícolas.
Do papel crucial da CUF na agricultura falam-nos os deliciosos cartazes ao lado e em baixo, também retirados deste blog.
 Mas tudo está condenado a acabar?
Aspecto infeliz do estado degradante em que se tornou o
armazém, agora reduzido (por quanto tempo?) à fachada.

Dr.João Maria de Sousa - Natural de Porto da Lage

Em 13 de Novembro de 1836 nascia em Porto da Lage João Maria de Sousa, filho de João Manuel de Sousa e de Maria José da Piedade de Sousa, numa casa cujas ruínas ainda se mantinham de pé há perto de quarenta anos. Era "bacharel formado em Medicina", como se dizia então, na Universidade de Coimbra sendo depois médico em Tomar por mais de quarenta anos. Para além da sua actividade profissional foi um grande interveniente na vida cívica e política do seu tempo sendo considerado um grande republicano e democrata. O seu nome chegou aos nossos dias sobretudo devido à sua obra literária de cariz histórico Notícia Descriptiva e Histórica da cidade de Thomar, a qual foi editada pela primeira vez em 1903, e mais tarde reeditada em edição fac similada em 1991. Ainda hoje esta é uma obra de referência quando se quer consultar a história de Tomar e seus arredores.
O dr. João Maria de Sousa faleceu em Tomar a 8 de Agosto de 1905 e está sepultado no Cemitério dos Olivais daquela cidade. Foi avô de outro tomarense também interessado na história da sua terra, Amorim Rosa, responsável pela compilação dos Anais do Municipio de Tomar, pela História de Tomar em dois volumes e por outros trabalhos referentes a Tomar.

11 de abril de 2012

Dr. Henrique Pereira da Motta -Médico de Porto da Lage



O Pantaleão Faria hoje cem anos um dos mais queridos estudantes de Coimbra do seu tempo, onde viveu na Real República Ribatejana. Foi um estudante boémio que conseguiu conciliar o trabalho com a paródia e a graça com a elegância; estava tão à vontade em casa do lavrador como nos salões nobres.
Foi “padrinho” de “O Ponney” um jornal satírico da academia: “S. Ex. o Magnífico Reitor ... foi a Lisboa; ficou instalado no João do Grão...”
Recordo um das inúmeras partidas que congeminou: durante a Queima, ele e o seu amigo Castelão d’Almeida, ambos quintanistas vestidos a imitar lentes, pediram licença para jantar “de Borla e Capelo” no restaurante do Astória. O maitre, surpreendido, aquiesceu sorridente e indicou-lhes a mesa.
No fim, discursaram elogiando-se mutuamente, despediram-se de toda a gente e preparavam-se para sair quando o maitre, contrafeito, fez tenção de lhes entregar a conta.
Em voz alta, manifestaram surpresa, dado que lhes tinha sido concedido jantar “de borla” como qualquer dos ilustres hóspedes poderia testemunhar...
A graça foi compensada; logo houve quem se prontificasse a pagar a conta ...
Foi nesse ano que começou a “Venda da Pasta” em favor do Asylo da Infância Desvalida do Doutor Elísio de Moura, seu professor. Quando me encontrava, queria saber se o Pantaleão “continuava lúcido” ...
Foi um clínico geral notável em Porto da Lage, sua aldeia natal, tendo continuado a conciliar uma dedicação e uma competência exemplares com um espírito brilhante, em especial quando deixou de fumar.
Um dia, parou o carro em local proibido, à frente dum café. A um polícia, que o conhecia e lho fez notar, explicou ir tratar um doente. Tomado o café, ia a entrar no carro quando o polícia lhe perguntou, melindrado:
--Com que então, ia tratar um doente...?
--Era verdade, o doente era eu que precisava dum café....

Morreu há 24 anos, era meu pai e foi meu mestre
.

Texto publicado pelo professor Henrique Carmona da Mota em 14.01.05 aqui




10 de abril de 2012

Manuel de Sousa Rosa o "pai" de Porto da Lage da nossa era.

Manuel de Sousa Rosa nasce em Assentiz em 26 de Novembro de 1827. Descende de gentes que, em meados de quinhentos, já  amanhavam terras e pastoreavam gado no Casal da Pena, Casal da Charruada, Fungalvaz, Beselga, e outras localidades das freguesias de Assentis, Soudos e Santa Eufémia, todas pertencentes ao actual concelho de Torres Novas.

                                         Peter Bruegel, O Velho, casamento camponês, 1568

Quando se casa, em Outubro de 1851 na Igreja de Nossa Senhora da Purificação já não tem pais e não se sabe que tipo de rendimentos aufere e de que vive. Será provavelmente um agricultor remediado que com quatro filhos pequenos, dois rapazes e duas raparigas, decide por volta de 1864 arrendar a Quinta da Belida, em Porto da Lage, pertencente à casa de Vargos. Vinte anos depois a quinta já é sua e, quando morre em 1905 é considerado um abastado proprietário local. Tem mais três filhos e de todos os sete apenas dois não vão viver para Porto da Lage quando casam. Os outros terão uma descendência que irá construir Porto da Lage tal como a conhecemos hoje. Os seus netos, muitos casados entre si, e as suas famílias, constituirão a maioria dos habitantes de Porto da Lage até aos anos sessenta do sec. XX.  Apesar da maioria se ter dispersado pelo país e pelo mundo,  ainda hoje lá vivem alguns dos seus tetranetos.
Eis uma notícia, pouca abonatória à primeira vista (mas quem saberá as razões que terá tido?) sobre Manuel de Sousa Rosa, constante da acta da Câmara Municipal de Tomar de 1 de Julho de 1871: 

" foi presente um requerimento de 6 proprietários da Quinta do Porto da Lage e lugares circunvizinhos, representando que Manuel de Sousa Rosa, da Quinta da Belida , deste Concelho, sendo rendeiro da mencionada quinta, tinha completamente obstruído a estrada pública no sitio de Porto da Lage, junto à ponte que ali se acha reconstruída , tendo desviado a corrente do Ribeiro de Porto Mendo, lançando-o pela estrada pública, e tendo mudado esta para um olival que lhe ficava próximo, ficando de permeio, entre a estrada, a ponte eo mencionado ribeiro, que por este facto impede o transito de pé e cavalgaduras pela dita ponte; acrescendo ainda que a dita estrada está, por este motivo, intransitável, especialmente para o transito de carros, do que tudo resulta  grave prejuízo para os suplicantes, por se lhes dificultar a passagem para as suas propriedades, e também para o público em geral, pois que «aquela estrada é, ainda hoje, muito concorrida». Além disso, tendo-se reconstruído há pouco a ponte que ali existe, fica a mesma ponte inutilizada, em consequência das obras feitas pelo dito Rosa, naquele sitio.
Os suplicantes pediam que Manuel de Sousa Rosa, fosse obrigado a repor tudo no seu antigo estado, ou a fazer as obras necessárias para que o transito público naquele sitio não sofresse prejuízo.
A câmara encarregou o Zelador de ir ao sitio examinar as obras feitas pelo dito Manuel de Sousa Rosa, e informar a Câmara com respeito a este assunto"

A localização da Quinta e o Ribeiro de Porto Mendo ou da Longra
(em Porto da Lage também lhe chamam  ribeiro da Quinta) que vem
desaguar na Ribeira da Beselga em PL, sob a Ponte.







Casas de Porto da Lage



Casa mandada construir por um dos netos de
Manuel de Sousa Rosa por volta de 1920



 Outras casas pertencentes a netos de Manuel de Sousa Rosa



             A única casa existente nos Olivais até meados dos anos
             setenta do sec.xx, foi comprada em 1930 por João Pereira
              da Motta, um dos netos de Manuel de Sousa Rosa.
               

                                                                                                                               E mais....





3 de abril de 2012

Odisseia da ponte de Porto da Lage no sec.XIX




1)    Da Acta da Câmara Municipal de Tomar  de 8 de Dezembro de 1840 "terminou a obra de construção da Ponte sobre a Ribeira da Beselga, junto à Quinta de Porto da Lage, importando em 32$220 réis” 



2)    A câmara compromete-se perante o director das obras públicas de Santarém, a apresentar cal, os carros para a condução das madeiras e os 16$000 réis para o aparelho das mesmas, tudo isto destinado à ajuda para a construção da ponte que a câmara pediu a S.M. a graça de mandar fazer no sitio de Porto da Lage, na estrada velha de Coimbra - Acta da Câmara Municipal de Tomar  de 7 de Abril de 1855.


3)    Ponte da ribeira da Beselga -foi presente o projecto desta ponte de madeira - Acta da Câmara Municipal de Tomar 4 de Julho de 1869


4)    Na sessão de 19 de Maio a junta da paróquia da Madalena solicitou auxilio da câmara para a reconstrução da ponte sobre a Ribeira da Beselga, próximo da Quinta de Porto da Lage, que se achava então em completa ruína, sendo esta ponte de toda a conveniência pública «por ser a antiga estrada real de Lisboa e Coimbra», a qual ainda hoje é muito concorrida, tornando-se sensível a sua falta, em consequência de não haver outra, e por ser aquela Ribeira muito caudalosa -  Acta da Câmara Municipal de Tomar 19 de Maio de 1871.
Nota: as ilustrações são  imagens de lugares com mais sorte que Porto da Lage pois conservam as suas velhas pontes. Não se conhece o aspecto que teria(m) a(s)  ponte(s) de que falamos.



23 de março de 2012

Porto da Lage - Freguesia da Madalena

A localidade de Porto da Lage fica situada na Freguesiada Madalena Concelho de Tomar
 

 A antiga freguesia de Santa Maria Madalena era uma vigararia da Ordem de Cristo, da apresentação da Coroa pela Mesa da Consciência, do termo de Tomar.A Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena, edificada no lugar de nome Madalena, é a sua igreja matriz. 


 
 É um templo com capela-mor, dois altares laterais e dois colaterais.

A capela-mor é revestida de azulejos azuis e amarelos do século XVII, com um padrão pouco vulgar para as igrejas da época

 Os vãos do tecto são forrados com os mesmos azulejos, o que também é pouco comum. Todos os altares, incluindo os colaterais, têm retábulos de talha seiscentista



A sua encantadora galilé

22 de março de 2012

Dia Mundial da Poesia - Porto da Lage e o seu rio

      Ribeira da Beselga
      O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
      Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
      Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
      O Tejo tem grandes navios
      E navega nele ainda,
      Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
      A memória das naus.
      O Tejo desce de Espanha
      E o Tejo entra no mar em Portugal.
      Toda a gente sabe isso.
      Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
      E para onde ele vai
      E donde ele vem.
      E por isso porque pertence a menos gente,
      É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
      Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
      Para além do Tejo há a América
      E a fortuna daqueles que a encontram.
      Ninguém nunca pensou no que há para além
      Do rio da minha aldeia.
      O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
      Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
      Alberto Caeiro

    O Comboio que não chegou a Porto da Lage

    Pelos vereadores encarregados de irem representar a câmara no funeral do presidente da republica [Sidónio Pais] foi comunicado não terem podido desempenhar-se dessa missão, em virtude de se não ter organizado o comboio em que os devia conduzir, pedindo para do caso ser dado conhecimento ao Governador Civil, lamentando o facto.
    Extracto da acta da Câmara Municipal de Tomar, Dezembro de 1918

    Porto da Lage e o Caminho de Ferro

    Cerimónia de colocação da primeira pedra
    Os caminhos de ferro em Portugal começam a ser pensados em 1834 (tinham tido inicio em Inglaterra em 1825) mas só em 1851 foi lançada a primeira pedra. Em 1854 são iniciados os trabalhos de construção da linha entre Lisboa e o Carregado.


    Cerimónia de ínicio dos trabalhos
    E em 1856 é inaugurado o troço entre Lisboa e Carregado

           
    Cerimónia da chegada do primeiro comboio ao Carregado.

    Finalmente em 1864 a Linha do Norte está completa entre Lisboa e Gaia (margem esquerda do rio Douro, no Porto). Porto da Lage passa a ter comboios a parar (só às vezes pois é uma estação de 4.ª categoria, só meses depois tem direito a receber o correio) na sua estação chamada "incorrectamente" de Paialvo. Com tantas cerimónias é provável que tenha havido também uma de inauguração da nossa estação, e se não houve, o que foi muito injusto,  pelo menos os nossos avós devem ter-se colocado à beira da linha a ver, pela primeira vez passar aquela estranha máquina.


    Cerimónia de inauguração da .....estação de
    Paialvo (mentira, mas se não foi assim foi melhor,
    de certeza mais pitoresco).(1)


    (1) imagem retirada deste blog

    19 de março de 2012

    O Fim da passagem da Estrada Real por Porto da Lage

    Em 28 de Março de 1791, reinado de D. Maria I  é publicado o seguinte  Alvará:  «Eu a Rainha. Faço saber aos que este Alvará virem: que tendo entendido o estado de ruína em que se acham as Estradas Públicas do Reino, ainda a mais principal delas, que comunica esta capital com a Cidade do Porto […]. Resolvi mandar proceder às Obras de Construção das Estradas principais, dirigidas á cómoda, e útil comunicação interna deste Reino; Ordenando que elas fossem gradualmente construindo pelo Método, Regulamento, e Plano, que tenho determinado».

    Em termos de política de transportes rodoviários, se assim se pode chamar, era a primeira vez em Portugal que se assistia a uma reflexão desta envergadura.
    O decreto de 1793  afirma:
    … assim como os rios tornados navegáveis contribuem para o esplendor, e opulência das Províncias, e Cidades, que regam, facilitando assim a comunicação de umas a outras Povoações, e o transporte dos géneros, produções, e mercadorias, da mesma maneira a construção das estradas públicas contribui para o mesmo fim, e dá igualmente a conhecer o estado de Policia, em que se acham os povos, e não é hum dos menores monumentos da grandeza dos Romanos os vestígios, que ainda se encontrão daquelas estradas, que desde as praças da Capital se dirigiam a todos os limites do Império Quis S. Majestade também distinguir o seu Reinado com estas demonstrações da grandeza do seu animo Real; nomeou para Inspector desta grande obra a José Diogo Mascarenhas Neto, e se começou logo com actividade, facilitando-se ao presente a estrada, que de Lisboa conduz até Coimbra; abandonou-se a antiga que pela inundação do Campo da Golegã se fazia muitas vezes impraticável, e para maior cómodo dos viandantes se instituio hum coche de Posta, que em certos, e determinados dias parte de Lisboa, e de Coimbra; Continua-se a mesma estrada, que em breve chegará ao Porto.

    Coche de Posta
    E foi assim que, nos finais do sec.XVIII se deu o primeiro declinio de Porto da Lage, na altura uma quinta e uma estalagem  situadas num ponto estratégico e importante, junto à principal estrada real. Após a construção da estrada de Lisboa a Coimbra, passando por Rio Maior e Leiria, a "velha" estrada cai em desuso e com ela as antigas estalagens situadas à sua beira, também a da Golegã, famosa hospedaria que deu origem à vila (pertencia, dizem, a uma galega e daí se teria originado o nome golegã ) entra em declinio. Anos depois, a velha ponte sobre a Ribeira da Beselga cai de todo e a ribeira naquele local só é passável a vau, quando a natureza deixa. Nos anos quarenta do século XIX é reconstruída, depois desaparece novamente, para ressurgir, pela última vez, em 1933. Ainda lá está.(MFM)